29/04/2021

Conheça a Franquia Brave, a Irmã Perdida de Transformers


Bom dia, boa tarde, boa noite, queridos leitores! Fico feliz que, mesmo com a extrema inatividade deste blog ao longo dos anos, vocês tenham encontrado um caminho de volta até aqui novamente. É sempre uma honra poder recebê-los!

Como vocês devem saber, este blog sempre se dedicou a escrever quase exclusivamente sobre os Transformers. Isso se deve ao fato de ter sido criado em 2010, quando eu ainda vivia no que hoje considero a minha "era de ouro" como fã dos robôs disfarçados - que durou aproximadamente entre 2007 e 2011 - e por esse motivo eles acabaram se tornando o assunto mais predominante por aqui, até mesmo depois de tantos hiatos. Algum dia posso até entrar em detalhes sobre as minhas "eras" em outro artigo, mas o que é relevante para este artigo é que ele está quebrando essa antiga tradição ao finalmente trazer um assunto diferente. Ou, pelo menos, diferente em partes, mas muito semelhante em outras.

O assunto em questão chama-se Yūsha Shirīzu (勇者シリーズ), comumente traduzido como Brave Series ou apenas Brave. Infelizmente, é um nome bastante genérico que não ajuda em nada a diferenciar essa franquia de qualquer outra coisa chamada "Brave" (como um certo filme da Pixar) ou "Yuusha" (em que uma breve pesquisa no Google apresenta resultados bem diferentes), por isso a melhor solução que encontrei foi apelidá-la de "Brave/Yuusha" e espero que vocês concordem com isso. Mesmo assim, vou continuar me referindo a ela apenas por Brave para simplificar a sua leitura.

Para este artigo, decidi contar a história da franquia do meu próprio ponto de vista, ao invés de apenas trazer friamente todas as informações sobre ela como se fosse uma página da Wikipédia. Acredito ser a maneira mais adequada de abordar o assunto porque assim posso transmitir o quanto todo o processo de descobrimento foi revelador e impactante para mim. Brave não foi apenas mais uma coisa que eu descobri em um fim de semana qualquer enquanto navegava na internet, muito pelo contrário. Brave foi algo especial que despertou em mim os mais profundos sentimentos de diversão, inocência e nostalgia que senti pouquíssimas vezes desde o fim da minha "era de ouro" como fã de Transformers.


Como eu descobri a franquia Brave


Ou: como saí de Transformers e cheguei em Brave.

Nossa jornada começa ao fim de 2019, logo após eu apresentar meu TCC que, para a surpresa de absolutamente ninguém que já me conheceu, era sobre a franquia Transformers - a "era de ouro" pode ter acabado, mas nunca deixei de ser um obcecado incorrigível - e abordava todos os principais momentos de sua rica história de mais de 35 anos por um ponto de vista estritamente "publicitário". Sentindo que já sabia tudo que havia para saber sobre a franquia depois de acumular informações por uns bons quinze anos ou mais e utilizar todo esse conhecimento para realizar o meu trabalho de conclusão de curso, simbolicamente inserindo um ponto final à essa "pesquisa" que durou grande parte da minha vida, comecei a questionar qual seria o meu próximo passo. O que mais eu poderia aprender sobre meus tão queridos robôs que são mais do que os olhos podem ver, quando parecia não haver mais para onde olhar?

Claro que seria um completo absurdo dizer que já consumi absolutamente tudo que existe de Transformers, pois essa seria uma tarefa virtualmente impossível para qualquer pessoa no mundo, não importa o quanto ela se dedicasse. Já li muitos dos quadrinhos, mas com certeza nem metade do total que deve existir; já joguei alguns dos jogos, mas essa atividade nunca foi um dos meus fortes; tenho uma vasta coleção de bonecos transformáveis, mas que juntos sem dúvida não somam nem um centésimo da quantia máxima de modelos já fabricados pela Hasbro e sua parceira Takara. Evidentemente, ainda há - e sempre haverá - muito mais conteúdo para ser consumido por mim, mas havia um conteúdo específico do qual eu me aproximava de secar a fonte cada vez mais rápido e que foi o verdadeiro catalisador do meu desejo por novas descobertas. Me refiro, é claro, aos desenhos animados da franquia.

Sim, pois pode acreditar, já quase não me restavam episódios a serem exibidos diante dos meus olhos pela primeira vez. Assistir Transformers, seja aos seus inúmeros desenhos animados ou à sua nem um pouco controversa série de filmes, sempre foi uma das minhas atividades favoritas - talvez perdendo apenas ao sagrado ato do colecionismo, o qual vem enfrentando suas próprias dificuldades, diga-se de passagem - e só de imaginar que eu poderia ficar sem nada inédito para ver em um futuro tão próximo me apavorava, ao mesmo tempo em que eu, ironicamente, não resistia à urgência de devorar o pouco que ainda restava. Mais especificamente, até a data de publicação deste artigo me faltam assistir apenas a quarta temporada de Rescue Bots, a terceira temporada de Cyberverse e a inteiridade de Rescue Bots Academy - todas por falta de oportunidade, não de interesse - para literalmente "zerar" a franquia, por assim dizer. E sim, é claro que novos desenhos e novos filmes continuarão a ser produzidos, com diversos inclusive já anunciados para os próximos anos, mas a espera excessivamente longa havia se tornado inaceitável.

Gráfico que circulou entre fãs de Transformers no Twitter no início de 2021 e que preenchi com a ordem em que assisti a cada série e filme. A linha começa em Robots in Disguise de 2001 e termina na recente War for Cybertron Trilogy. (fonte)

E foi assim que me encontrei tomando a decisão de que deveria escolher uma nova franquia de robôs gigantes para ocupar esse tão importante nicho do meu interesse durante tão extenso intervalo. Ao mesmo tempo, embora por motivos diferentes, eu também alimentava um crescente desejo por assistir animes, coisa que sempre tive apenas um pequeno interesse, e naturalmente não demorei a chegar na conclusão mais lógica possível: unificar minhas duas vontades em um único objetivo. A princípio, considerei algumas das franquias robotizadas mais famosas do extremo oriente, como Gundam (da qual desde então assisti à série original e até gostei, mas não o suficiente) e Macross (que possui uma famosa conexão com Transformers na forma do boneco original do Jetfire, mas que ainda desconheço além disso) e várias outras, mas foi apenas quando uma antiga e até então insignificante memória se ergueu em meio aos meus confusos pensamentos que enfim encontrei a resposta que tanto procurava: lembrei que já tinha ouvido falar em algo chamado Brave.

Para ser mais específico, eu já havia acessado e lido a página sobre Brave na Transformers Wiki algumas vezes no decorrer dos anos. A TFWiki.net foi um dos sites mais importantes para a minha formação como fã dos nossos queridos visitantes cybertronianos desde as primeiras vezes que pesquisei por eles na internet e, às vezes, clicando incessantemente nos hyperlinks que nos carregam de uma página para outra dentro do site, me deparava com a tal página de Brave, sem nunca dar à ela a devida atenção que merecia. Sempre me pareceu algo obscuro demais, irrelevante demais, e eu voltava a me esquecer dela assim que deixava a página. Felizmente, porém, um resquício sobreviveu em meio às minhas lembranças por tempo suficiente para voltar naquele momento decisivo, que me levou a retornar imediatamente à página para ler todo o seu conteúdo com muito mais atenção. Foi quando percebi que aquela era mesmo a solução que tanto procurava, e que ela havia estado bem ali, escondida em plena vista durante todo esse tempo, esperando a sua vez de brilhar. E foi assim que tomei a decisão definitiva de que iria assistir Brave.


Mas o que é a franquia Brave?


Bonecos da linha Brave Exkaiser de 1990. (fonte)

Agora que chegamos no trecho da meu trajeto em que decidi aprofundar meus conhecimentos sobre Brave enquanto me preparava para assisti-la, podemos enfim falar sobre a franquia de modo mais informativo. Em outras palavras, vou resumir aqui o que aprendi através das minhas pesquisas para que vocês também conheçam o básico sobre ela. Quem já sabe as origens de Brave talvez não tire nada de novo ao ler este trecho do artigo, mas, caso você seja um fã de Transformers que ainda não sabe nada a respeito de Brave, tenho certeza de que vai se surpreender com o que está prestes a descobrir.

Brave é uma franquia de animes e brinquedos, focada em robôs que se transformam em veículos e animais, e criada por ninguém menos que a nossa querida Takara em resposta ao crescente declínio de Transformers em popularidade no Japão ao fim da década de 1980. Vale lembrar que, a partir de 1987, depois do fim da "Geração 1" (a série original dos Transformers, produzida primariamente pela Hasbro nos Estados Unidos), a Takara decidiu que produziria seus próprios desenhos em uma tentativa de manter a franquia em alta. Essa empreitada resultou em uma trilogia de animes conhecidos como The Headmasters, Super-God Masterforce e Victory que, lentamente, se afastaram do formato tradicional americano encontrado na G1 e evoluíram para algo muito mais próximo de um anime genuíno. Em especial, a diferença entre a "americanisse" da G1 e a "japonezisse" de Victory é gritante quando colocadas lado a lado. No entanto, mesmo com as adaptações feitas para melhor servir ao público japonês, a Takara eventualmente perdeu suas últimas esperanças na franquia e decidiu mudar todos os seus planos para o ano de 1990. Alguns brinquedos e mangás ainda seriam lançados sobre os robôs cybertronianos no decorrer da primeira metade da nova década, mas não seriam mais o principal foco da empresa. Já o que era para ter sido a mais nova série animada, Zone, foi rebaixada a apenas um episódio lançado como um OVA e teve todo o seu restante cancelado, encerrando assim a cronologia dos animes de Transformers com um dos finais mais abertos de toda a longa e triste história dos finais abertos. Mas nada disso importava para a Takara, que agora só pensava em sua nova franquia.

Brave pode ser considerada a sucessora direta - para não dizer substituta - de Transformers na época e, ironicamente, originou-se de maneira quase idêntica à sua antecessora. Todo fã de Transformers sabe que a franquia não foi criada do zero; no Japão, já existiam duas linhas de brinquedos chamadas Diaclone e Micro Change produzidas pela Takara, que foram importadas para os Estados Unidos pela Hasbro e retrabalhadas para dar origem aos Transformers que conhecemos hoje. Semelhantemente, todos os brinquedos da primeira linha de Brave, intitulada Brave Exkaiser, haviam sido idealizados como Transformers antes da Takara mudar seus planos para o futuro deles. Reza a lenda que a dupla de trens Blue Raker e Green Raker foi lançada exatamente como teria sido caso suas embalagens tivessem escrito "Transformers" no lugar de "Brave", enquanto os demais bonecos da linha passaram por alterações maiores antes de se tornarem realidade. Também há quem diga que o vilão Dino Geist originou-se como um novo boneco de ninguém menos que o líder dos Dinobots, Grimlock, mas eu não pude confirmar a autenticidade dessa informação. De qualquer forma, alguns Transformers foram de fato relançados nas linhas de Brave ao longo dos anos; por exemplo, uma versão vermelha do Deathsaurus de Victory foi lançada como Red Geist na terceira linha, The Brave Fighter of Legend Da-Garn, enquanto Sixshot de The Headmasters foi modificado para criar Shadowmaru na quinta linha, Brave Police J-Decker, entre outros relançamentos e reaproveitamentos. Resumindo, não é a toa que a Transformers Wiki possui uma página inteira dedicada à Brave.

À esquerda, Deathsaurus de Transformers Victory (fonte); À direita, Red Geist de The Brave Fighter of Legend Da-Garn (fonte).

Mas como já deve ter ficado claro, os brinquedos não são o foco deste artigo. Assim como Transformers é e sempre foi uma coprodução da Takara com a Hasbro, a empresa japonesa decidiu que também não produziria Brave sozinha, mas não escolheu sua parceira americana para este projeto. Em vez disso, ela aliou-se ao estúdio de animação Sunrise, já famoso por ser o responsável por animes como Gundam. O estúdio então se encarregou de produzir um total de oito séries animadas baseadas nas respectivas linhas de cada ano, sendo elas:

  • 1990: Brave Exkaiser (勇者エクスカイザー Yūsha Ekusukaizā)
  • 1991: The Brave Fighter of Sun Fighbird (太陽の勇者ファイバード Taiyō no Yūsha Faibādo)
  • 1992: The Brave Fighter of Legend Da-Garn (伝説の勇者ダ・ガーン Densetsu no Yūsha Da Gān)
  • 1993: The Brave Express Might Gaine (勇者特急マイトガイン Yūsha Tokkyū Maitogain)
  • 1994: Brave Police J-Decker (勇者警察ジェイデッカー Yūsha Keisatsu Jeidekkā)
  • 1995: The Brave of Gold Goldran (黄金勇者ゴルドラン Ōgon Yūsha Gorudoran)
  • 1996: Brave Command Dagwon (勇者指令ダグオン Yūsha Shirei Daguon)
  • 1997: The King of Braves GaoGaiGar (勇者王ガオガイガー Yūsha Ō Gaogaigā)

Curiosamente - e eu não sei dizer se isso foi intencional ou apenas uma coincidência - a franquia chegou ao fim no mesmo ano em que Beast Wars estreou no Japão, a série que revitalizou (não sem uma boa dose de controvérsias infundadas) a franquia Transformers na segunda metade da década de 1990. Após o lançamento de um último OVA de GaoGaiGar em 1999, Brave tem se mantido em um constante estado de hibernação e só desperta em raras ocasiões para lançar alguns novos brinquedos, um deles sendo o protagonista da série original, Exkaiser, na linha Masterpiece, mais conhecida pelo seu foco em personagens de Transformers, mas nenhuma nova animação foi criada desde então, o que é realmente uma pena.

Apesar disso, não estamos aqui para lamentar o fim prematuro de uma das melhores franquias do gênero já criadas, mas sim para celebrar o legado que ela nos deixou. Até o momento da publicação deste artigo, já assisti aos três primeiros animes e pretendo continuar assistindo a todos até o fim. Quando isso acontecer, tenho certeza de que me sentirei motivado a escrever um novo artigo recapitulando toda a franquia, mas também não seria capaz de esperar tanto tempo para poder comentar sobre os capítulos que já vi até agora. Por isso, o restante do artigo será dedicado aos animes Exkaiser, Fighbird e Da-Garn, a como eles me fizeram sentir e às inevitáveis comparações que tracei entre eles e Transformers.


Anime 1: Brave Exkaiser



Antes de mais nada, preciso deixar bem claro que a minha expectativa ao escolher o primeiro anime da franquia para assistir - porque prefiro seguir a ordem de lançamento sempre que possível - não era lá das mais altas. Os animes de Transformers que o antecederam não eram exatamente da melhor qualidade mesmo para os padrões da época, e eu já havia me convencido de que estava prestes a ver algo que estaria, no máximo, no mesmo nível. Ainda assim, eu estava disposto a deixar passar quaisquer problemas que o anime tivesse, por ser apenas a primeira parte de uma longa saga que com certeza poderia melhorar com o tempo, mas, ao contrário de tudo que antecipei, não foi necessário ignorar coisa alguma enquanto assistia. Quando comecei o primeiro episódio, fui imediatamente fisgado por uma empolgante abertura que me fez abandonar qualquer dúvida que ainda restasse e, para a minha mais grata surpresa, o resultado foi um dos animes mais divertidos e engraçados que já tive o prazer de testemunhar. 

Brave Exkaiser conta a história de uma pequena equipe de policiais do espaço conhecidos como Braves (leia-se, Autobots) que perseguem uma gangue de piratas espaciais chamados Geisters (ou Decepticons, para os íntimos) até a Terra, onde adotam modos alternativos veiculares para se disfarçar entre os humanos. Apesar da mais do que óbvia semelhança com Transformers logo de cara, no entanto, os Braves e os Geisters não são formas robôs alienígenas que copiam veículos ao escaneá-los; em vez disso, eles começam como esferas de energia que precisam absorver os veículos de escolha para então serem capazes de transformá-los em seus novos corpos robóticos. O líder dos heróicos Braves, Exkaiser, se disfarça de um mero carro popular, mas na hora da ação se converte em um carro turbinado e equipado com um enorme trailer (e, mais tarde, um jato) com o qual pode se combinar em um super modo - basicamente, ele é o Rodimus Prime que deu certo. Os outros Braves são Blue Raker e Green Raker, dois trens que se combinam em Ultra Raker, e o trio formado pelo jato Sky Max, o carro Dash Max e o tanque-furadeira Drill Max, que se combinam em God Max. Onde os Braves perdem feio para os Autobots, porém, é em suas caracterizações; todos eles possuem exatamente a mesma personalidade estoica e determinada, que em Transformers costuma ser reservada apenas aos líderes, em especial ao Optimus Prime. Mesmo assim, é ótimo vê-los interagindo entre si e entrando em batalha juntos.

Mas o que os Braves têm de determinação e coragem, os Geisters têm de burrice e covardia, o que os torna muito mais memoráveis e carismáticos no decorrer dos episódios. Eles são liderados pelo gigantesco tiranossauro Dino Geist, enquanto os demais vilões são o tricerátops Horn Geist, o estegossauro Armor Geist, o pteranodon Ptera Geist e o brontossauro Thunder Geist. Um fato curioso é que, exceto por Dino Geist, cada Geister teve seu esquema de transformação baseado diretamente em um dos Dinobots da G1, explicando assim o motivo das duas equipes serem formadas pelas mesmas espécies pré-históricas. Outra semelhança com os Dinobots, desta vez do desenho Transformers Animated, é que seus corpos foram criados a partir de dinossauros animatrônicos construídos para uma exposição.


Mas não são apenas robôs que protagonizam o anime. O elenco humano é formado pelo jovem Kouta, sua irmã mais velha Fuuko, seus pais Jinichi e Yoko Hoshikawa, seus colegas de escola Kotomi e Takumi, e o jornalista atrapalhado Osamu Tokuda, que trabalha para o jornal do pai de Kouta. Kouta é a única pessoa que sabe que o carro de sua família é ninguém menos que o próprio Exkaiser e torna-se um importante aliado dos Braves em suas tentativas de deter os Geisters. O simples fato de haverem tantos nomes no elenco pode soar como algo preocupante para alguns fãs de Transformers que são sensíveis à interferência humana em meio às ações dos robôs, mas engana-se quem pensa que eles só estão aqui para atrapalhar. Embora Kouta seja o seu típico menininho protagonista de desenho infantil, em absolutamente nenhum momento ele se torna irritante ou desnecessário. Ele é o responsável por carregar o "coração" do anime, dando a todos os episódios um ponto de vista inocente, otimista e esperançoso, algo que pode fazer toda a diferença quando buscamos uma forma de escapismo aos eventos da vida real. Já Kotomi é simplesmente uma menininha adorável que às vezes acompanha Kouta em suas aventuras e Fuuko, mesmo cumprindo o papel de "irmã adolescente rebelde", também nunca se torna um incômodo e é até divertida. Um dos detalhes mais bonitos e inesperados do anime é a relação sempre presente entre os pais de Kouta que, mesmo depois de tantos anos casados, continuam sendo românticos e apaixonados um pelo outro. Já Tokuda, que vive correndo atrás de toda e qualquer notícia que possa estampar na capa do jornal, e Takumi, um garoto rico e mimado que vive tentando se exibir mas que sempre acaba na pior (imagine ele como o Kiko de Chaves), são as maiores fontes de alívio cômico entre os personagens humanos.

Mas antes de continuar falando da trama do anime, não posso deixar de mencionar uma revelação colossal que me pegou completamente desprevenido logo que assisti aos primeiros episódios e que quase explodiu a minha cabeça quando entendi o que era. Assim que vi o Sky Max pela primeira vez, senti que havia algo de muito familiar nele; o modo jato, o formato da cabeça, as longas ombreiras e, acima de tudo, a águia no peito. Tentando decifrar se já não o conhecia de algum lugar, decidi procurar por imagens do boneco e instantaneamente senti todo o meu mundo virar de cabeça para baixo ao encontrar a resposta que eu nem mesmo sabia que estava procurando. Pois o que descobri foi que, quando era criança, eu tive um boneco falsificado do Sky Max - branco em vez de azul - e ele foi, sem sombra de dúvidas, o primeiríssimo boneco "transformer" que eu tive em toda minha vida. Já fazia literalmente mais de uma década que eu nem sequer lembrava que tive aquele boneco e, antes de esquecê-lo completamente, sempre o considerei apenas um mero brinquedo de camelô sem importância, não fazendo ideia de sua verdadeira origem. Depois de todos esses anos e de tudo que contei a vocês neste artigo, descobrir que o que me introduziu a Transformers foi, na verdade, um boneco de Brave, é talvez a maioria ironia que o destino já reservou para mim.

À esquerda, Sky Max no anime. No centro, o boneco original (fonte). À direita, o mesmo boneco falsificado que eu tive na infância (fonte).

Enfim, voltando ao anime. O formato da trama é extremamente episódica e quase todos os episódios possuem a mesma estrutura, mas ainda assim existe uma continuidade em seus eventos que importa do início ao fim. Basicamente, o objetivo dos Geisters é roubar todos os "tesouros" do planeta Terra, acreditando que poderão vendê-los em um tipo de mercado negro do espaço como os bons piratas que são. O problema é que a definição deles da palavra "tesouro" é extremamente literal e nunca leva em consideração o seu uso como uma metáfora ou hipérbole. Por consequência disso, Dino Geist passa seus dias inteiros assistindo televisão no fundo de uma caverna e, toda vez que a palavra "tesouro" é usada para descrever absolutamente qualquer coisa que seja, ele envia seus Geisters para roubar seu novo alvo. Isso resulta nas situações mais absurdas que se pode imaginar, com os vilões tentando roubar não apenas objetos pequenos como uma câmera fotográfica antiga, mas também quantias imensuráveis como todo o sal que existe no mundo e até mesmo ideias abstratas como o "amor" e o "espírito do Natal". Onde a série fica ainda mais criativa é nas horas em que os Geisters criam uma diversidade de novos monstros e robôs para manter os Braves ocupados usando quaisquer estruturas que estejam presente no ambiente da batalha, como postes de energia elétrica, estátuas gigantes, prédios e brinquedos de parques de diversões. E finalmente, quando seus planos não são arruinados pela sua própria estupidez, eles são detidos por Exkaiser ao som do melhor solo de guitarra que já ouvi na vida. É simplesmente lindo.

Mas o principal motivo pelo qual Exkaiser me conquistou tanto vai além de apenas ter sido um dos melhores animes que já vi. Exkaiser me fez sentir novamente a sensação de estar assistindo Robots in Disguise (Car Robots no Japão e A Nova Geração no Brasil) quando era criança; a mesma sensação que me fez me apaixonar por Transformers naquela época. Mesmo depois de terminar Exkaiser, eu ainda não havia cansado de assistir as deliciosamente longas sequências de transformação que se repetem a todo episódio, porque foram justamente sequências como essas que me fizeram querer nunca mais parar de assistir Transformers, e que agora também me farão nunca mais parar de assistir Brave. Mais do que nunca, eu tive a certeza de que fiz a escolha certa ao me aproximar da franquia.


Anime 2: The Brave Fighter of Sun Fighbird



Depois de Exkaiser me conquistar de modo quase inesperado, era mais do que garantido que eu iria assistir ao próximo anime o mais cedo possível. A princípio, voltei a sentir um pequeno receio, temendo que The Brave Fighter of Sun Fighbird deixaria a desejar em comparação ao seu predecessor. Por sorte, porém, mesmo não o considerando tão impactante quanto Exkaiser - até porque, sejamos honestos, seria difícil repetir o mesmo impacto inicial da descoberta -, ainda assim tive uma experiência bastante divertida que também contou com alguns curiosos paralelos com Transformers e com uma nova revelação bombástica ainda mais chocante e inacreditável que a anterior, já que, desta vez, tenho certeza de que ela também irá surpreender você.

Grande parte do formato de Fighbird é o mesmo que vimos em Exkaiser, apesar de não ser uma sequência. Pois é, por algum motivo que eu não sei explicar, decidiram fazer cada anime ser totalmente independente, sem existir uma única continuidade entre eles, o que por um lado eu até acho uma pena, mas por outro não me incomoda tanto. Enfim, a mesma premissa inicial de policiais espaciais perseguindo criminosos até a Terra se repete, mas algumas diferenças notáveis já começam a surgir logo no primeiro episódio. Nossos protagonistas humanos agora são os primos Kenta e Haruka, que vivem com o avô, o professor Hiroshi Amano, um cientista e inventor que construiu uma série de veículos gigantescos com a estranha pretensão de usá-los para "conquistar a paz mundial". Eu não faço a menor ideia de como ele pretendia fazer isso, mas, convenientemente, esses foram os veículos absorvidos pelo líder dos novos Braves, Fighbird, e pelos cinco membros do Baron Team que se combinam em Thunder Baron. Completando a equipe, há também os membros da Guard Team, inicialmente composta pela viatura de polícia Guard Star, a ambulância Guard Rescue e o caminhão de bombeiros Guard Fire, e mais tarde incrementada pelo jato Guard Wing, que se combinam em Super Guardion. Exceto pelos membros do Baron Team que agem mais como drones do que como robôs independentes, o novo elenco de Braves possui personalidades muito mais bem definidas, o que finalmente os dá aquele ar de "vida própria" que sempre me fez preferir Transformers a outros tipos de robôs. Mas há mais um detalhe importante sobre o líder da equipe que eu segurei para contar por último.

Além de seus veículos futuristas de aplicação duvidosa, o professor Amano também vinha trabalhando na construção de um robô androide, que acabou sendo absorvido por Fighbird junto de seu modo jato. Graças a isso, Fighbird adquiriu um disfarce humano batizado de Yutaro Katori e passou a conviver com Amano e seus netos, se transformando em seu colossal modo robô apenas para batalhar. É claro que nem precisei pensar duas vezes para associá-lo aos Pretenders de Super-God Masterforce, Transformers que possuem a mesma habilidade de disfarce humano. Por si só, isso foi algo bastante inesperado, já que eu não imaginava que logo no segundo anime já estaríamos vendo um tipo de transformação tão diferente das mais tradicionais, mas essa ainda não era a maior surpresa que o alter ego humano de Fighbird reservava para mim. Eis que a tal surpresa veio no início do terceiro episódio, quando uma estranha sensação de déjà vu começou a surgir em torno da cena que eu assistia. As roupas de Katori, o livro em seus braços, a janela em suas costas, o jardim aos seus pés, as borboletas ao seu redor... Até que finalmente todas as peças se encaixaram em suas exatas posições, e foi naquele instante que eu descobri a origem do meme "is this a pigeon?". Não há palavras suficientes para descrever o quanto eu fiquei encantado com essa descoberta!

Sim, o famoso meme "is this a pigeon?" é na verdade uma cena de Fighbird. Obrigado, internet!

Naturalmente, sempre que algo que não é humano tenta se disfarçar de um, situações humorísticas irão acontecer por consequência. Katori muitas vezes age de forma ingênua - devido à extrema bondade que todos os Braves possuem - e acaba se colocando em diversos apertos e perigos. Felizmente, devido ao seu enorme carisma e bom coração, ele consegue convencer até mesmo um par de bandidos a se tornarem seus amigos. Outros personagens que frequentemente interagem com ele são: o inspetor Satsuda, um detetive disposto a tentar de tudo para prender o professor Amano; Momoko Yamazaki, uma repórter determinada a descobrir a identidade secreta do piloto do Fighbird; e Yoshiko Kunieda, uma doce enfermeira que desenvolve uma atração romântica por Katori. Já o time de vilões é significativamente diferente dos Geisters de Exkaiser; o líder supremo, Draias, passa a maior parte da série sendo apenas uma enorme forma de energia (detalhe que também me lembrou do vilão Devil Z de Masterforce), mas eventualmente revela um imponente modo robô formado pela combinação de três animais robóticos. Draias é auxiliado por dois capangas humanoides de pele verde, que são muito mais competentes que os Geisters em seus métodos e costumam pilotar mechas gigantes para poder enfrentar os Braves de frente, e pelo maligno doutor Jango, um cientista louco que já possui um histórico de rivalidade com o professor Amano e que se parece muito com o dr. Arkeville da G1.

De modo geral, Fighbird mantém o mesmo ritmo episódico de Exkaiser por boa parte de sua duração, mas a trama avança significativamente mais rápido assim que eventos de maior escala começam a acontecer. Mesmo assim, ao contrário do anime anterior, senti que este poderia ter tido alguns episódios a menos, pois chega um ponto em que tudo se torna um pouco repetitivo demais até para o meu gosto. Claro que os personagens humanos continuam no mesmo nível de antes e os Braves estão ainda melhor caracterizados, mas devo confessar que os novos vilões não me agradaram tanto. Sinto falta da incompetência e dos planos ridículos dos Geisters que os tornavam tão marcantes; aqui, todos os vilões são genéricos e possuem o velho plano de dominação mundial que já estamos cansados de ver, com a dupla de alienígenas verdes sendo especialmente tediosa; eu comecei até mesmo a torcer para que fosse o fim deles a cada batalha que perdiam. Mas não se enganem, mesmo estando um passo abaixo de Exkaiser, Fighbird é também um excelente anime do gênero e foi um importante período de transição para a franquia, que aos poucos se afastava de suas origens como um mero derivado de Transformers para encontrar seu próprio estilo e conquistar sua independência.


Anime 3: The Brave Fighter of Legend Da-Garn



Terminei de assistir o terceiro anime da franquia, The Brave Fighter of Legend Da-Garn, apenas uma semana antes de começar a escrever este artigo e devo dizer que foi o último incentivo que faltava para me convencer a escrevê-lo. Após as duas experiências anteriores, eu sentia que já sabia exatamente o que esperar; com certeza iria me divertir novamente, mas isso viria às custas de tolerar uma pequena dose de repetição entre episódios. No entanto, apesar de ter acertado em cheio ao dizer que iria me divertir, eu não poderia estar mais errado ao temer que o anime seria repetitivo. Até aqui, Da-Garn é o anime mais diferente de Brave, fugindo das fórmulas empregadas por seus antecessores, se afastando significativamente das influências de Transformers e abraçando os mais variados elementos popularizados pelos mais diversos gêneros de animes.

A primeira diferença que se faz evidente é a nova origem dos Braves; não mais policiais alienígenas, a equipe liderada por Da-Garn nasceu da própria força vital da Terra, que os criou para protegê-la e os manteve selados em talismãs escondidos ao redor do mundo. Da-Garn é o primeiro a despertar quando uma nova ameaça se aproxima do planeta e absorve uma viatura de polícia como seu disfarce, podendo também se combinar com um jato e um trem e, mais tarde, com o leão Ga-Ohn. Os outros Braves são divididos em dois times: os quatro Sabers, aeronaves e uma águia que se combinam em Pegasus Saber (um raro Combiner em forma de centauro); e os quatro Landers, veículos terrestres que se combinam em Land Bison. Outra diferença, à qual também somos introduzidos já no primeiro episódio, é o papel do protagonista humano, o jovem Seiji Takasugi, que não se resume a ser apenas o melhor amigo e ajudante dos Braves; desta vez, ele é escolhido para ser nada menos que o comandante dos robôs, se tornando o responsável por conduzir as ações de Da-Garn e dos outros, que são estritamente leais às suas ordens mesmo sendo capazes de agir por conta própria. Para manter sua identidade secreta, Seiji passa a vestir um uniforme de super-herói e, por incrível que pareça, se torna um ótimo líder em pouquíssimo tempo, apesar de inicialmente se aproveitar de seus novos meios de transporte para viajar pelo mundo. Afinal, quem não se aproveitaria se estivesse no lugar dele?


O restante do elenco inclui: os pais de Seiji, Kouichirou e Misuzu Takasugi, um comandante militar e uma apresentadora de telejornal, respectivamente, que se dedicam mais aos seus empregos do que à família; Hikaru, a melhor amiga e vizinha de Seiji; Haruo e Tsukushi Kosaka, os adoráveis pais de Hikaru e donos de um restaurante; Tadashi Nemoto, um policial bem humorado e dono da viatura absorvida por Da-Garn; e Hotaru Sakurakouji, uma misteriosa colega de Seiji que possui uma ligação psíquica com a força vital da Terra. Juntos, esses personagens formam o que acredito ser o melhor elenco humano até agora; todos cumprem excepcionalmente bem as suas funções, possuem ótimas interações entre si e, acima de tudo, são simplesmente pessoas maravilhosas, do tipo que você gostaria que fizessem parte da sua vida, e o que torna isso possível é o grande destaque que eles recebem na trama. Há episódios tão focados na relação de Seiji com as pessoas ao seu redor que os Braves acabam aparecendo o mínimo necessário, apenas para não terminar sem que ocorra pelo menos uma pequena batalha. E eu sei, eu sei, já posso sentir daqui a insatisfação dos fãs de Transformers que preferem mais robôs e menos humanos em suas séries, mas quando os humanos são tão simpáticos, divertidos, genuinamente interessantes de assistir e absolutamente importantes para a história sendo contada como é o caso, seria de extrema desonestidade criticá-los por suas presenças. Qualquer animação ou filme de Transformers se beneficiaria, e muito, com personagens iguais a estes.

Mas onde Da-Garn esconde suas maiores surpresas é em seu elenco de vilões. No início, somos apresentados apenas a um loirinho metido a besta chamado Red Lone e seu pequeno exército de robôs, cujo principal objetivo é encontrar cinco locais específicos na superfície da Terra que devem ser perfurados simultaneamente para causar sua destruição imediata. A princípio, tive certeza de que ele seria o nosso único vilão por pelo menos a maior parte do anime, o que sem dúvidas causaria a mesma fadiga que prejudicou Fighbird, mas felizmente esse não foi o caso; depois de fracassar pelos primeiros dez episódios, Red Lone é misteriosamente substituído por um novo vilão, De Butcho, um ogro que concentra seus esforços em tentar descobrir a identidade secreta do comandante dos Braves, embora a missão de Red Lone também seja compartilhada pelos demais vilões. Ainda mais tarde, somos introduzidos a Lady Pinky, uma vilã que parece ter saído diretamente de um anime da Sailor Moon; Violecche, um estranho porém elegante homem-felino; Cyan, um poderoso OVNI capaz de morfar em um dragão; Seven Changer, o único vilão a ser um robô do mesmo tipo que os Braves, capaz de se transformar em sete modos diferentes e que esconde suas verdadeiras intenções; e, finalmente, OhBoss, uma entidade cósmica interdimensional que reside no centro de um planeta metálico e que deseja destruir a Terra e o universo apenas para seu próprio benefício.


Descrevendo dessa forma, é fácil imaginar que os vilões são todos descartáveis e que o objetivo deles não é nem um pouco original, mas, embora a segunda afirmação até possa estar correta, a primeira não poderia estar mais errada. O grande diferencial de Da-Garn está justamente na forma como seus vilões são tratados; apesar de unidos por um mesmo líder e uma mesma missão, cada um deles prefere agir sozinho e à sua própria maneira, o que naturalmente gera muitos desentendimentos e desconfiança entre eles. Em especial, Butcho, Pinky, Violecche e Seven Changer são todos introduzidos de modo a nos causar a impressão de que cada um será "o maior vilão de todos", apenas para terem suas crenças questionadas, suas ambições colocadas em jogo e, consequentemente, suas personalidades mais desenvolvidas ao se verem rebaixados pela chegada do vilão seguinte. As caracterizações que os vilões recebem são comparáveis às dos personagens humanos, o que significa que episódios focados em seus conflitos e dilemas também não são raros, enquanto a constante rotação no status quo mantém a trama muito mais envolvente. Onde o anime não funciona tão bem e trai um pouco a inteligência de seu público, porém, é na estranha forma como as identidades secretas de vários personagens são tratadas. Há diversos momentos em que eu genuinamente não sei dizer se a intenção dos roteiristas era deixar certas identidades o mais óbvio possível, ou se realmente esperavam que ninguém iria descobrir até a "grande revelação". O mesmo também ocorre entre os próprios personagens, que falham de forma astronômica em descobrir as identidades secretas uns dos outros, embora isso tudo apenas torne as suas interações ainda mais divertidas e inusitadas.

Enfim, eu poderia continuar falando sobre Da-Garn por muito mais parágrafos, pois fiquei genuinamente encantado com o anime, mas acredito que já disse o suficiente, até porque vale a pena reservar algumas das suas maiores surpresas para os leitores que se interessarem em assisti-lo após ler todos os meus elogios. Da-Garn pode não ter sido o anime que eu pensei que seria, mas foi algo muito melhor do que isso; foi o anime que eu não sabia que estava procurando, mas que era exatamente o que eu queria encontrar: uma verdadeira mistura de Transformers com todos os meus elementos e clichês favoritos de outros gêneros de animes. Um equilíbrio perfeito que nunca pensei ser possível e que me deixou ainda mais ansioso para desvendar os segredos que o restante da franquia Brave ainda reserva para o meu futuro.


Considerações Finais


Transformers vs. Brave: Afinal, qual é melhor?

Para concluir, é claro que eu não poderia deixar de fazer algumas últimas comparações e dar mais alguns esclarecimentos. No decorrer do artigo, fiz várias observações apontando tanto as semelhanças, o que considerei inevitável devido às suas origens interligadas e à minha própria jornada de descobrimento de uma através da outra, quanto as diferenças entre ambas as franquias. Diferenças essas que, em vários momentos, pareço até mesmo insinuar que fazem de Brave uma franquia melhor que sua meio-irmã ocidental. Mas será que é isso mesmo que eu quis dizer? Será possível que eu realmente considero Brave melhor do que Transformers?

Obviamente, não; pelo menos, não como um todo. Transformers é uma franquia incomparavelmente maior que Brave, que se estende por inúmeras mídias e formatos diferentes, desfruta de um invejável reconhecimento global e que vem se provando cada vez mais duradoura mesmo beirando os quarenta anos de existência, enquanto Brave nasceu e morreu no intervalo de uma década, é relativamente popular apenas no Japão e na Coreia do Sul e se resume a basicamente seus brinquedos, alguns animes e pouco mais que isso. Na questão dos brinquedos, não há muito que eu possa dizer devido à minha falta de experiência com Braves, mas tenho certeza de que a Takara os produzia com a mesma qualidade com que costuma fazer seus Transformers, então acredito que aí seja um empate técnico. No entanto, onde Brave brilha muito mais forte que Transformers e merece levar o título de melhor das duas é em seus animes.

E não me entendam mal, com animes eu me refiro especificamente às animações de origem japonesa. Como todo fã sabe, a franquia possui tanto animações americanas quanto japonesas em seu extenso catálogo, e tenho certeza de que muitos não hesitariam em dizer que o seu forte sempre esteve nas americanas. Muitos de nós concordam que Beast Wars, AnimatedPrime são, de longe, os melhores desenhos de Transformers já lançados (eu pessoalmente ouso dizer que Rescue Bots também está entre os melhores) e o que todos eles têm em comum é o fato de terem suas origens nos Estados Unidos. É claro que nem tudo que a Hasbro faz é automaticamente bom, como a detestável War for Cybertron Trilogy está aí para provar, mas o ponto é que a Takara nunca entregou um anime de Transformers comparável em qualidade às melhores séries americanas. Os animes tendem a ser no mínimo tediosos, como no caso das sequências da G1 e da Beast Wars (isso que eu gosto de todas elas, embora admita seus defeitos), e, no máximo, a ter os inúmeros problemas que assolaram a existência da Trilogia Unicron. Ironicamente, o que eu considero o melhor anime, Car Robots (e não é apenas por motivos nostálgicos, eu realmente analisei todas as minhas opções aqui), é o que mais carrega um espírito semelhante ao de Brave, o que me sugere que Brave serviu como uma inspiração direta durante a concepção de Car Robots e influenciou os Autobots a voltarem aos seus modos veiculares após passarem meia década se transformando em animais.

A batalha final de Transformers: Galaxy Force (Transformers: Cybertron na versão americana, à esquerda) possui diversas referências à batalha final de Brave Exkaiser (à direita), incluindo a mesma pose entre Optimus e Exkaiser ao apontarem suas espadas.

Transformers possui um enorme potencial para bons animes que nunca foi propriamente explorado e Brave é justamente a prova disso; em outras palavras, fosse Brave considerada uma parte oficial de Transformers, eu estaria neste momento afirmando que pelo menos Exkaiser e Da-Garn são os melhores animes da franquia, a par com as minhas séries americanas favoritas. E é por isso que me entristece que, simplesmente por não possuir a palavra "Transformers" em seu título, Brave tenha sido relegada à mais completa obscuridade, sendo totalmente desconhecidos ou ignorados por uma maioria esmagadora do fandom de Transformers. Eu sei que muitos fãs não são tão ligados ao lado japonês da franquia e não se dão ao trabalho de assistir aos seus animes, mas muitos dos personagens e brinquedos que no passado já foram exclusivos ao Japão são hoje reconhecidos e adorados por pessoas do mundo inteiro. Me pergunto como seria se Exkaiser, Fighbird e Da-Garn fossem lembrados ao lado de outros personagens icônicos de origem japonesa como Star Saber, Deathsaurus, Overlord, Dai Atlas e Lio Convoy. Imaginem quantos novos brinquedos dos Braves já poderíamos ter recebido em linhas como UniverseGenerations, ou até mesmo como teriam sido suas reinterpretações nos quadrinhos de Transformers da IDW, entre tantas outras possibilidades. Enfim, é claro que continuo gostando muito de Brave como uma franquia separada, até porque acho difícil acreditar que os animes teriam sido exatamente os mesmos caso tivessem sido criados com Transformers em mente, mas ainda assim não custa sonhar com o quanto as coisas poderiam ter sido diferentes.

Antes de finalizar, vou deixar aqui as minhas recomendações. Aos fãs de Transformers de longa data que decidirem assistir Brave mas que não são acostumados a assistir animes, sugiro começar por Exkaiser, o mais acessível devido à forte sensação de familiaridade causada por suas muitas semelhanças com Transformers. Por outro lado, fãs mais experientes de animes que não possuem tanta inclinação aos robôs irão preferir Da-Garn, devido ao seu foco maior no elenco humano e por ser muito mais parecido de modo geral a outros gêneros populares de animações japonesas. Já Fighbird se encontra em um meio termo, sendo assim a minha segunda recomendação a ambos os lados, a menos que você esteja com muita pressa de ver o meme "is this a pigeon?" em seu habitat natural. Mas independente de qual anime você vai assistir, se é que vai assistir a qualquer um deles, o que eu mais espero deste artigo é que ele tenha ajudado a despertar ou ampliar ainda mais o seu interesse em Brave, nem que seja apenas para se aprofundar um pouco mais em sua história ou para conhecer melhor a sua linha de brinquedos, pois eu genuinamente acredito que as duas franquias mereçam compartilhar dos mesmos fãs e serem lembradas juntas. Assim como é muito comum colecionadores de Transformers misturarem suas coleções com Go-Bots, outra famosa linha de robôs transformáveis, eu adoraria ver Brave ganhando seu próprio espaço nessas mesmas coleções e, assim como a Hasbro adora associar Transformers à G.I. Joe sempre que surge uma nova oportunidade, nada me deixaria mais feliz do que ver a Takara trazendo Brave de volta em um crossover oficial com Transformers. Pode parecer improvável, mas Brave já foi referenciada algumas vezes em Transformers nas últimas décadas, revelando que algum interesse pela franquia ainda existe dentro da Takara.

Artes conceituais de Transformers: Bravemasters, uma linha de brinquedos inspirada em Brave proposta em 2014 que infelizmente foi cancelada em favor de Transformers: Cloud. Será que algum dia veremos algo parecido se tornando realidade?

Brave ainda pode ter um longo caminho pela frente até conquistar o seu merecido reconhecimento no ocidente, mas é um caminho que vale a pena ser percorrido. Seja como uma parte da história de Transformers ou como sua própria franquia, espero vê-la sendo lembrada mais vezes por fãs de robôs, brinquedos e animes em geral de todos os cantos da internet e do mundo, e sei que eu pelo menos estarei fazendo a minha parte para isso. Quem sabe, se um dia o interesse em Brave crescer o suficiente, a Takara poderia decidir trazê-la de volta com todas as forças, afinal, em um mundo tão influenciado pela nostalgia coletiva como o que vivemos hoje, não é impossível acreditar que um aumento em popularidade poderia mesmo resgatar a franquia, permitindo assim que a irmã perdida de Transformers seja finalmente encontrada por muito mais pessoas que, assim como eu, passaram a vida procurando por ela e nem sequer sabiam disso.

Muito obrigado a todos que leram até o fim, espero que tenham aprendido algo novo e que tenham gostado do assunto de hoje. Por favor, sintam-se à vontade para compartilhar o artigo com todas as pessoas que vocês acreditam que poderão se interessar por ele. O que me deixaria ainda mais satisfeito seria vê-lo se tornando um ponto de partida para novos fãs em potencial de Brave que precisem de uma ajudinha para saber por onde começar. Então se você chegou até aqui enquanto pesquisava pela franquia, deixe uma lembrança de sua passagem nos comentários!

Um abraço do Cavalo Atômico, seu amigo para falar sobre Transformers e Brave, e nos vemos no próximo artigo!

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